
É verdade que nunca escolhemos ser assim. Foi por pura contradição do destino. Testamos nossas línguas inúmeras vezes ao planejar ações que poderiam vir a se desenrolar, mas nesse momento eu estava perdida em você e o mesmo parecia acontecer contigo. Quantos ensaios e promessas que estavam para ser cumpridas ou desfeitas numa fração de segundos?
Tive medo de me arrepender, de possuir o coração saltado ao te encarar, porém nunca de ter me entregado a um amor sem expectativas. Não há nada de mais. Seremos apenas bons companheiros e poderemos no máximo proporcionar agradáveis momentos recíprocos.
Se os olhos não fossem tão azuis, talvez eu não ficasse tão cega quando a luz refletisse neles. Deus! Isso chegava a me deixar vermelha! A todo momento minhas lágrimas ameaçavam sair. Muitas mágoas me estouravam os miolos, e eu só precisava sumir instantaneamente.
Quando ele se foi, só esperei que pudesse conter minhas sensações e a minha vontade que tivesse ficado. Que aquelas palavras parassem de se repetir nos meus ouvidos e a saudade do abraço para durar pela eternidade. Então vem o mar…
O mar sempre me acalmou. O seu movimento, a forma como poderia ser tão revolto e calmo na diferença das horas. Era como eu me sentia por dentro e como não conseguia me expressar.
Muitas vezes olhei para esse mesmo mar e procurei respostas. Entender o que se passava na sua cabeça, mas as que recebi foram poucas. Quase nenhuma. E isso me enlouquecia. Elas eram diversas e partiam de vários princípios: agoniadas, emocionais, nervosas, preocupadas, em frangalhos… Íntimas.
E mesmo assim sempre houve um pedido… Que nessa tonalidade eu encontrasse os olhos daquele que amava. Suspirei. Estar aqui estava sendo o maior erro da minha vida, mas evitar seria ainda pior.
Não era difícil para mim reorganizar padrões. Sempre costumei fazer todo o meu serviço com agilidade, eficácia e presteza, mas estar debaixo do mesmo teto com alguém assim era bem diferente. Estava inquieta, não conseguia assimilar, e o fator primordial que me fazia querer jogar tudo para o alto: estava longe de casa, não tinha a quem recorrer e estava cada vez mais tarde e perigoso.
A última coisa que me recordo daquela noite foi dos braços dele me tomando para si e os seus lábios na minha cabeça. Alucinação. Mas era real. Deliciosamente real. Todas as noites que esperei ter alguém ao meu lado para me dar carinho haviam se materializado em instantes.